Simplicidade...
Ela gosta de vestidos baratos. Perfume então, só tinha um, barato também, comprado em revista feminina. É como se ser simples fosse só o que ela sabia ser.
Sonhava desde pequena em ter um lar, um marido bonachão e filhos saltitantes em redor dela enquanto fazia bolinhos de chuva numa cozinha apertada e cheirando à amor. Simples assim. Porque sabia desde o princípio que de coisas simples se fazia a vida...
A moça do cabelo desalinhado e do quarto sempre em polvorosa, queria ser poesia, mesmo quando era prosa.
E deixava sempre de lado as convenções e os precipícios e quando se olhava no espelho não via apenas uma, mas mil moças de vestidos baratos a acenarem-lhe como se a sua vida fosse sempre infinda, cheia de mistérios e segredos, cheia de aventuras, quimeras e ritmos incertos.
Logo ela que não passava duma moça de sessão da tarde e pipoca com suco de groselha. Ai, tudo o que ela mais queria era ser sempre gente, era estar sempre viva, era ter sempre a música como seu guia.
Ora, a moça simples era dona dos mais nobres sentimentos, estes, brilhantes, ricos, ouro em pó, porque a moça descobria cotidianamente, a riqueza que era estar viva e a sabedoria do morrer a cada dia, na certeza de que não adiantava se apegar à coisas materiais, carro do ano ou viagem pra Marte, porque no fundo a vida, exigia apenas coragem.
E esta, ela tem de sobra.
Simples assim.